O “evangelho ostentação”
Por Ângelo dos Santos Monteiro
Recentemente (2009 a 2010) surgiu no Brasil um novo estilo musical que a cada dia ganha mais expressão, chamado Funk Ostentação, onde seus intérpretes e representantes não somente “catam”ao ritmo de frenéticas batidas eletrônicas, mas trazem como característica deste novo estilo musical a ostentação de objetos de alto valor (mesmo que sejam imitações baratas) como relógios, pulseiras, correntes, roupas, etc. Não obstante toda ostentação, as músicas são desprovidas de qualquer valor cultural, e em contra partida, são recheadas de conteúdo impróprio, como sensualidade, apologia ao crime, luxuria, ostentação financeira, etc. Enfim, oferecem aquilo que as massas que lhes acompanham querem ouvir ao ponto de serem contagiadas a curtirem aquilo que estão a lhes oferecer.
No mundo evangélico as coisas não andam muito diferentes. Os púlpitos viraram lugar de ostentação e o povo, massa de manobra sob o poder persuasivo de “pregadores” que manipulam seus ouvintes sob o timbre rouco e distorcido de suas potentes e frenéticas cordas vocais.
Quanto menos conteúdo bíblico, mais ostentação: relógios grandes e reluzentes daqueles que dariam para ficar pendurados na parede de casa como bons objetos de decoração; ternos tão reluzentes que serviriam como sinalizadores de trânsito; sapatos tão exóticos que você não sabe nem distinguir de que tipo de couro são confeccionados (jacaré, crocodilo, cobra, girafa, rinoceronte, dinossauro ou mamute – risos); anel nos dedos do “tamanho de um pequeno relógio” para ostentar uma suposta formação teológica. Concernente ao anel de formatura, nada mais legítimo que seu uso seja feito por quem de fato fez uma graduação de nível superior, porém, tais “pregadores” nunca, sequer sentaram nos bancos acadêmicos para fazer jus ao que usam nos dedos, inclusive, frequentemente em sua própria defesa discursam contra a ética e a teologia objetivando tão somente esconder sua negligência e vergonha pertinente a falta de conteúdo bíblico (2 Timóteo 2.15). Por vezes, tornam-se paradoxais discursando contra aquilo que eles próprios objetivam ostentar.
Mas não para por aí; eles geralmente carregam nas mãos “mega-bíblias”, meramente por moda e para chamar atenção, que são quase do tamanho de uma mala de viagem (cabem tranquilamente ali dentro algumas toalhas de rosto que substituem os lenços, comumente bordadas com o nome próprio = PASTOR Fulano de Tal….). Seus perfis nas redes sociais sempre trazem prefixos antes de seu nome próprio; não são como as pessoas comuns que simplesmente usam seus nomes de nascimento e nada mais. Você os acha nas redes sociais assim denominados: CONFERENCISTA Hipócrasis dos Humildis Quenãoé, PREGADOR Fulano de Tal, PRELETOR Ungidorildo Milagrento Inveridico, MISSIONÁRIO Ilusionésimo Caradepau Lustrado…, GRANDE HOMEM DE DEUS……., BISPO…, PATRIARCA…., MATRIARCA…., e se não bastasse, agora já tem uns sendo ungidos até a REI (acredite se quiser). Geralmente os prefixos que vêm antes do nome são símbolo da ostentação. Não que não possam usá-los, mas há o momento oportuno para isso e geralmente esse momento é o do serviço (risos). Inclusive o “prefixo” não é e nunca foi título de honra (como pensam alguns), algo que os torne mais importantes que os demais, como se estivessem em um sistema piramidal, hierárquico, mas toda e qualquer ordenação consiste em designação para o SERVIÇO do Reino, assim como ocorre com todos os dons, sejam eles espirituais ou ministeriais. Assim, quanto mais “alto” for o cargo, mais responsabilidade, mais serviço, mais servo dos demais devem se tornar, contudo, neste “eVANGELHO OSTENTAÇÃO” o que se percebe é totalmente o inverso. Querido leitor, será que você lembra daquele pregador de congresso que chega no culto somente no momento da pregação? Que espera alguém recebê-lo na porta da igreja para conduzi-lo até o púlpito? Que caminha pomposamente pelo corredor com o peito estufado para atrair olhares? Estas são mais algumas das características dos difusores deste famigerado, porém fatídico “eVANGELHO OSTENTAÇÃO”, que diga-se de PASSAGEM, não é nem de perto o de Jesus Cristo.
Antes de prosseguir, quero deixar bem claro aqui, todo o meu respeito, admiração e consideração aos verdadeiros Pastores, Missionários, Evangelistas, Ministros do Evangelho de Jesus Cristo, etc., que não fazem do seu chamado pretexto para ostentação, mas que cumprem fielmente sua chamada, para a qual foram devidamente vocacionados pelo próprio Senhor para o fiel serviço do Reino de Deus.
Depois de aberto o “parêntesis” supra, cabe prosseguir destacando que este modismo está tão infiltrado em determinados guetos evangélicos, que já temos maquetes humanas dos “ilusionistas da fé”, os chamados “Pregadores Mirins”, “Missionários Mirins”, “Conferencistas Mirins”, etc. que na melhor das hipóteses deveriam estar soltando pipa a exemplo dos adolescentes de sua idade, ou sentados nos bancos das Escolas Bíblicas aprendendo com seus professores e pastores, para então, na idade certa e no momento oportuno, exercerem o ministério para o qual foram vocacionados, sem que esta etapa tão importante da vida (infância e adolescência) lhes seja furtada.
A problemática é tão grave que não é raro você encontrar perfis do tipo nas redes sociais, contudo, estes personagens mirins, geralmente gestados pelos pais, não estão restritos somente a esfera virtual, mas presentes nas igrejas onde atendem os compromissos de suas “concorridas” agendas. Na mais clara mecanização de suas exibições pode-se observar a cópia escrachada de seus “referenciais” ministeriais, os pregadores ídolos.
Pois bem, lá estão eles, os “pregadores mirins” com seus ternos reluzentes, relógios que mal conseguem sustentar em virtude do peso. Eles também usam em um dos dedos, os tão famosos anéis de “teologia”. Suas “prédicas”, a exemplo daquela proferida por seus referenciais adultos, são recheadas de jargões e frases decoradas e de efeito. Temo que essas crianças, em virtude de sua “adultização precoce” e pelos trejeitos que fazem com sua voz venham ter problemas vocais no futuro.
Interessante é que, apesar de todos os adjetivos que evocam para si, tanto os adultos como os “projetos de adultos”, se indagados não saberão responder questões básicas e fundamentais inerentes à trajetória da fé que professam, nem sobre a história do próprio cristianismo. Se perguntados, não saberão responder quem foi Lutero, Calvino, Zuínglio, etc., nem muito menos terão lido qualquer livro de “introdução a teologia” de capa a capa com suas míseras 200 páginas. Mas…, contudo…, entretanto…, porém…, todavia…, adultos, jovens e adolescentes que ostentam este tipo personalizado, julgam-se a si próprios e são adjetivados pelos que lhes seguem, como “super crentes”, “super espirituais”, etc., e os que, por vezes levantam-se em denúncia a esta incongruente prática são considerados pelo “público fiel” como um teólogo frio, incrédulo, desclassificado e até desviado.
Enfim, este não é o sentimento e a moral que permeia o Evangelho, o verdadeiro Evangelho. Estamos vivendo tempos de equívoco; colocamos pessoas no centro e Deus na periferia, ao menos, esse é o reflexo das mais esquisitas práticas cristãs e religiosas. Muitos cultos já perderam o significado e a essência, e o Evangelho para muitos virou oportunidade de negócio, mercado da fé e trampolim de oportunidades. Como já frisado anteriormente, este não é o sentimento que permeia o Evangelho, logo, não condiz com o que ensinou o Pregador por Excelência – Jesus Cristo de Nazaré – o qual tinha todas as condições necessárias para ostentar quem de fato Ele foi, é, e continuará sendo pela Eternidade, contudo, “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana , a si mesmo se humilhou , tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Filipenses 2.7,8).
Precisamos urgentemente conscientizar as pessoas que o Evangelho de Jesus Cristo é totalmente distinto disto que estão a difundir. Precisamos menos de “pregadores astros”, de “estrelas” sobre os púlpitos com suas vestimentas e apetrechos requintados e de mais pregadores que vistam-se com “pele de camelo” mas que suas mensagens sejam dotadas de conteúdo bíblico e sejam cristocêntricas. Enfim, precisamos deixar o “eVANGELHO OSTENTAÇÃO”, e porque não dizer, o “eVANGELHO DOS HOLOFOTES” e voltarmos ao simples, porém profundo, “Evangelho da Cruz”!
Fraternalmente em Cristo,
Ângelo dos Santos Monteiro
Fonte: Gospel Prime
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